sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Insustentável

Ela odiava essa época do ano em que cada dia que você acorda está mais frio e mais feio. Nesses dias ela não gostava de sair da cama. Mas isso só acontecia uma vez por semana, no domingo, que era seu dia de folga. O dia trinta de julho de dois mil e nove não era domingo. Era uma quinta-feira. O despertador tocou no criado mudo. Pareceu que o som que a despertava todas as manhãs estava excepcionalmente mais irritante. Ela desejou ter mais cinco minutos para ficar debaixo dos cobertores, mas ela não tinha. Espreguiçou-se esticando ao máximo seu corpo, da ponta dos pés à ponta das mãos. Descobriu-se e levantou num pulo só. Sentiu o frio do dia em seus braços e pernas que o pijama não cobria. Todo seu corpo se arrepiou e ela chegou a murmurar alguma coisa. Foi para o banheiro e sentou-se para fazer xixi. Ao sentir o assento gelado arrepiou-se novamente. Caminhou até a cozinha e colocou a água do café para ferver no fogão. Gastou três fósforos pra isso. Enquanto a água esquentava voltou para o banheiro. Ao se deparar com o espelho não se reconheceu. Seu cabelo estava bagunçado, suas olheiras lhe conferiam um ar de cansada e para piorar a situação, uma espinha daquelas amarelas tinha surgido bem no meio de sua testa. Ela que nunca fora gorda, nem perto disso, se olhou de lado no espelho para avaliar a silhueta de seu corpo. Também não gostou do que viu. Lavou o rosto e fez tudo o que precisava no banheiro sem olhar mais para o espelho. Foi vestir seu uniforme de trabalho. Enquanto colocava a calça que ela achou estar apertada, pensava em como estava gorda e no que poderia fazer a respeito. Só parou de pensar nisso quando começou a pensar em quanto odiava aquele uniforme. Lembrou que quando trabalhava naquela loja do shopping não precisava usar uniforme nenhum. Tudo conspirava para que seu dia fosse ruim. O apartamento era pequeno o suficiente para se ouvir do quarto a água borbulhando na cozinha. Foi até lá e no caminho deu três batidas rápidas na porta que ficava a esquerda no corredor. O tempo que demorou para coar o café e colocar o pão, uma faca, a manteiga, o queijo e dois pratos na mesa foi o mesmo tempo que Lucas, seu filho de 11 anos, levou para se levantar e ficar pronto para o colégio. Todas as manhãs eram assim. Ela batia na porta, preparava o café da manhã e ele chegava na cozinha já pronto, de mochila nas costas. O pai de Lucas não estava em casa. Nunca esteve. Na verdade, Joana nunca esteve bem certa em relação a quem seria o pai de Lucas, mas isso era um segredo dela. Só dela. Até sua melhor amiga e sua mãe tinham certeza de que era Sílvio, seu ex namorado que sumiu quando ela engravidou. Mas Lucas nunca precisou de um pai e Joana nunca precisou de um marido. Os dois juntos eram independentes. Tomaram café assistindo desenho animado, como era o habitual. Lucas sujou sua camisa de café com leite, como era o habitual. Joana fez cara feia, como era o habitual. Depois de escovar os dentes os dois desceram o morro da rua onde moravam até chegar no ponto de ônibus. Pegaram o ônibus que parava bem perto da escola de Lucas, lá eles desceram. Lucas caminhou até a escola e Joana ficou no ponto. O ônibus que ela pegava para ir até o trabalho parou no ponto mas ela não entrou. Ela conseguiu ver os vários rostos conhecidos de pessoas desconhecidas que pegavam aquele mesmo ônibus, assim como ela, todas as manhãs, mas com quem ela nunca havia trocado uma palavra. O ônibus foi embora. Em seguida, parou no ponto um ônibus que ela não vazia idéia de onde viera e nem para onde iria. Embarcou. Naquela tarde a vó de Lucas buscou ele no colégio e eles foram pra casa dela.

3 comentários:

  1. q pira hein pedrinho!
    porra .. o q uma espinha amarela no meio da testa nao faz hein
    ahhahuahauahuha
    eh nois .. bons textos
    abraço

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  2. O meu luquinhas participa da história haha coincidência
    boa crônica.. continue assim

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  3. Muito bom.. deu vontade de continuar lendo e saber o resto :)

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